o flamboyant

Nas noites, Norberto Paso carregava sacos no porto de Buenos Aires.
Nos dias, longe do porto, erguia esta casa. Blanca levantava para ele os tijolos e os baldes de argamassa, e as paredes iam crescendo em torno do quintal de terra.
Esta casa estava a meio fazer quando Blanca trouxe um flamboyant do mercado. Era uma árvore pequenina, ela havia pago um dinheirão, Norberto agarrou os cabelos:
- Você enlouqueceu - disse. E ajudou a plantá-la. 
Quando terminaram a casa, Blanca morreu. 
Agora se passaram os anos, e Norberto sai pouco. Uma vez por semana, viaja algumas horas até o centro da cidade, se junta a outros velhos que protestam porque a pensão da aposentadoria é uma merda que não dá nem para pagar a corda em que se enforcar.
Quando Norberto regressa, tarde da noite, o flamboyant está esperando.

Eduardo Galeano

2 comentários:

Marina Rima disse...

A ilustração é um primor, quando vista ao vivo ainda, parece passar inúmeras mensagens. Penso às vezes, em quantas interpretações uma obra pode ter, mas com certeza, deve estar aquém do que realmente quer dizer.
Por isso ao mesmo tempo que tento entender, tento me desprender de qualquer entendimento.

Me arrepiei ao ver tua mostra no centro cultural e me arrepiei ao ler este texto, é mesmo muito, muito bonito.

Anônimo disse...

"numa galeria de quadros, um homem contempla a paisagem de uma cidade e essa paisagem se abre a ponto de incluir a galeria que a contém e o homem que a está observando" Italo Calvino

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