o flamboyant

Nas noites, Norberto Paso carregava sacos no porto de Buenos Aires.
Nos dias, longe do porto, erguia esta casa. Blanca levantava para ele os tijolos e os baldes de argamassa, e as paredes iam crescendo em torno do quintal de terra.
Esta casa estava a meio fazer quando Blanca trouxe um flamboyant do mercado. Era uma árvore pequenina, ela havia pago um dinheirão, Norberto agarrou os cabelos:
- Você enlouqueceu - disse. E ajudou a plantá-la. 
Quando terminaram a casa, Blanca morreu. 
Agora se passaram os anos, e Norberto sai pouco. Uma vez por semana, viaja algumas horas até o centro da cidade, se junta a outros velhos que protestam porque a pensão da aposentadoria é uma merda que não dá nem para pagar a corda em que se enforcar.
Quando Norberto regressa, tarde da noite, o flamboyant está esperando.

Eduardo Galeano